Sempre conto essa história e a repetição aqui é imprescindível. Na época em que comecei a cobrir moda, há uns cinco anos, havia muito mais mineiros na passarela. Sim, no meu primeiro São Paulo Fashion Week, em 2004, eram seis estilistas made in Minas (Ronaldo Fraga, Rodrigo Fraga, Renato Loureiro, Patachou, Vide Bula, Alphorria), enquanto que no Rio tínhamos Graça Ottoni, Coven, Victor Dzenk, Drosófila. O tempo passou e os mineirinhos sumiram da passarela. Agora só resta Ronaldo, em São Paulo, e Coven, Victor, Graça e Printing, no Rio. A parte boa é que, apesar das baixas do line-up, tenho visto conterrâneos fazendo outras coisas na temporada, coisas essas importantíssimas e por isso insisto no assunto para falar da virada e da esperança de tempos melhores. Exemplos? Julia Valle, de quem já falei várias vezes! Ainda jovem, Julia integrou pela segunda vez o calendário do Rio Moda Hype e é um nome para se prestar atenção. O designer gráfico Albino Papa, por exemplo, se tornou essencial na montagem do São Paulo Fashion Week. Descoberto pelacenógrafa Daniela Thomas na penúltima edição do evento, Albino desenhou quase tudo o que decorava o prédio da Bienal até segunda passada. "Fiz a parte do ´toile de joir´ e tudo o que era gráfico. Desenho nos espelhos, cyber café, concierge, etc", conta Albino. Os corações do piso do cyber, não por acaso, são as tatoos que também estão no braço dele. "O primeiro andar do prédio onde testavam caixas listradas de azul e branco e onde tínhamos as tatuagens são referências ao marinheiro francês, mais explicitamente ao "Querrelle" do Jean Genet, e toda a pegada de Versailles na Bienal inteira.... por isso tanto espelho, tanto adamascado", finalizou. Já Bill Macintyre é um dos que fazem um desfile acontecer, embora quase ninguém saiba disso e pouco ainda o conheçam. O mineiro, que hoje só passa por Beagá para refazer as malas, é turismólogo, com pós em gestão cultural e em direção de arte, mas não faz nada disso. É o assistente de direção de desfiles mais requisitado da moda brasileira. Aprendiz de Zee Nunes e Carla Estrela, Bill hoje dá voos solos em vários desfiles, arrisca-se na cenografia e ainda acha tempo para ser DJ. É ele quem põe ordem no backstage. Outras mineiras ilustres que estiveram sob os holofotes do fashion nessa temporada foram Drielly Oliveira e Mary Figueiredo, leia-se Mary Design. Descoberta na porta da escola em Beagá, Drielly é hoje uma das meninas que mais se vê numa temporada de moda. Só no São Paulo Fashion Week verão 2010 fez 24 dos 40 desfiles, ou seja, 60% do calendário, e ficou entre as cinco modelos que mais desfilaram. Mary, por sua vez, assinou os acessórios divertidos de Alessa, no Fashion Rio, e 2nd Floor, em Sampa.
Bill Macyntire é peça chave no funcionamento de uma temporada de moda.