Cobra cascavel
sábado, 19 de setembro de 2009 - Postado por Luiza Drumond às 10:36
Como vocês podem ver, sou ruiva, cheia de sardas escuras, tenho olhos azuis e um único amor. Gosto de ler, mais odeio dizer.
- Mais minha filha, dizer o que?
Um silêncio enorme se passa na sala.
- Ei! Estou falando com você!
Um olhar profundo se passava entre as duas. Uma mensagem se passa neste olhar, de guerra ou paz. Mais, o que é paz? E guerra? Eu não sei. O mundo não sorri mais? O que aconteceu durante esses 200 anos?
Estou perdida, não sei o que fazer, o sol está me queimando e a sede me dominando. Não há chuvas desde 2015 e já estamos em 3001, tenho apenas 21 e uma imaginação de sonhos encabáveis e inacreditáveis.
Mais pra que ter sonhos? Nem eu sei quem eu sou. Só sei que sou ruiva com sardas escuras e sei fazer rimas nas entrelinhas. È como se fosse um rap sem a batida.
Minha pele é rachada, mais meus olhos são azuis, posso ser uma modelo, mais nada muito comum, quero um vinho tinto em uma taça azul.
Posso ser multifunções, mais só sei dizer não. Meu caderno está todo escrito, deu até um livro, cheio de rimas e rabiscos. Não sei como terminá-lo, não tem título, só uma capa vinho.
Queria ter um filho, mais nem construí minha própria vida. Tenho só um cachorro, mais mesmo assim está quase morto. Ele é vermelho com bolinhas pretas, parece uma joaninha, cabe até na minha bolsinha.
Tenho pouco tempo, mais suficiente pra dizer como amo. Não demonstro afeto, sou fria e sempre digo que amo. Está muito calor e estou transpirando, acho que vou tomar um bom banho, não posso, tenho que ter água até o final do ano. Estou com fome, mais não tem comida, vou morrer de fome meu Deus! Ai meu Deus! Estou tonta, está tudo rodando, tem algo gelado me enrolando. Está fazendo um barulho estranho. Não vejo nada, só ouço um barulho semelhante a uma cobra cascavel.
-Alô?! Alô?!