Coreografando - Continuação

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012 - Postado por Luiza Drumond às 11:42

(...)

- Para quê tanto pudor?

Nina se perguntava por que alguém a criara de maneiras tão distintas, qual ser nunca tivera o desejo de se recriar? Minha garota era na medida certa, nem tão breve nem tão duradora. Ah, se Nina soubesse o quanto é bondosa. Ela tinha capítulos, fala soltas e deslizes perdoáveis. Era apesar dos pulsos de passarinho, firme. Tinha um tom de voz delicado apesar da firmeza que transparecia em seus passos. Nina adorava o barulho das teclas que minha máquina de escrever fazia, dizia que era como linhas retas em batidas perfeitas e acentuadas. Apesar dos caroços no coração, a garota com olhos de coruja, rodopiava feito pião dentro de seu vestido branco transparente e suas linhas delicadas e ossos pontudos preenchiam todo aquele espaço vazio em seda delicada...



(...)

Ficava a bailar pela sala de estar em noites chuvosas, para ela a chuva lavava os males da vida. Gostava de tocar piano. Em uma vez, numa dessas noites de ventania, sentou-se no banquinho e começou a deslizar seus dedos pelas teclas, abafando completamente aquele barulho que parecia anunciar o fim do mundo. O som que saía era tão doce, tão sincero e sensível aos ouvidos da pequena que as lágrimas escorriam por sua face como o orvalho escorre pela folha que o vento movimenta. Tudo que Nina fazia tinha um toque de prazer. Na verdade ela criava o prazer de fazer tal coisa. Mas coitadinha, sofria tanto também... Era muito sozinha. Vivia ela e ela mesma dentro de uma casa pintada de branco com móveis feitos de madeira rústica. Vez ou outra batia um calafrio de arrepiar até os cabelos da cabeça. Sentia vontade de ter um alguém como ela por perto para compartilhar suas coisas. Mas o que era possível fazer? Nina amadureceu rápido demais. Quem entenderia uma garota que fazia planos ao ir dormir, que cantava ao vento e dançava ao luar, que gostava de tudo que é antigo? Esse mundo de hoje está evoluído demais, Nina não se sente bem apesar de ser adaptada a ele. Falta o "antigo" para ela.
(Gess Penha)